2 de dezembro de 2012

Hospedaria Cheia



"Estando eles (Maria e José) ali - em Belém, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria." (São Lucas 2, 6-7)


Mais um Natal bate em nossas portas e, infelizmente, mais um ano Jesus não encontra lugar na "hospedaria" de nossos corações. Podemos comparar a hospedaria com um coração cheio de si, onde não há espaço para o amor nem para a simplicidade, que a muito desejam entrar. Nossa hospedaria, por diversas vezes está absorvida pelas atividades quotidianas, pelas várias interesses que monopolizam nossa atenção. O entretenimento, o consumismo, a extravagância nas bebidas e na alimentação, não deixam lugar para o Menino-Deus que quer um pequeno espaço para nascer. "Não é talvez verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distracções de vários tipos? Às vezes, a realidade 'arrebata-nos'." (Papa Bento XVI)
Com efeito, não só os aspectos exteriores preenchem o espaço do coração do homem, há sobretudo, os conflitos internos sempre presentes em nossos corações: as mágoas deixadas pelos relacionamentos equivocados, o ressentimentos provocados pela decepção, a falta de perdão que a anos tiram o sono. Todos esses elementos são frutos de uma "hospedaria" ostentada por desejos incoerentes, planos que não estão de acordo com os "pensamentos de Deus" (Isaías 55, 8). Nossa esperança é vã quando não esperamos Jesus, ou quando o descartamos devido ao excesso de nossa soberba.


"Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo." (Apocalipse 3,20) Em todos os tempos e lugares o Senhor Jesus sempre está a bater à porta de nosso coração, Ele é elegante, discreto e respeitador, não invade a casa do nosso coração, espera com paciência e calma, abrirmos para cear conosco. A única condição imposta por Ele é "se" abrirmos, ou seja depende exclusivamente de nós. Contudo, nosso coração está como uma velha hospedaria cheia de entulhos, que iniciou uma obra sem preocupar-se com o fim, com o acabamento. Todo o lucro proviniente dos hóspedes é investido em coisas desnecessarias, que não servirão para concluir a obra iniciada. Por este motivo devemos pedir diariamente ao Senhor: "Completai em mim a obra começada" (Salmo 137). Desta maneira, percebemos que somente Deus pode findar em nós - obras de suas mãos - a obra iniciada em nossa concepção, Ele é nosso grande arquiteto: "vós me tecestes no seio de minha mãe." (Salmos 138,13).


Todavia, enquanto não deixarmos nosso coração se plasmar num pequeno e simples presépio, no entanto, espirituoso e acolhedor, ficaremos nesta eterna insatisfação proporcionada pelo mundo da comodidade e bem-estar, vazio de sentido. Pois é no presépio, não na hospedaria, que a Luz divina ilumina e se reveste de uma esperança esplendida; ali no presépio, representado por um coração humilde, que é anunciado a "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados" (São Lucas 2, 14). Ou seja, um coração vazio de si, simples, acolhedor e humilde anuncia antecipadamente a “glória de Deus” trazendo “paz aos homens”, lugar donde o eco do canto angelical ressoa forte para a humanidade ouvir, que "os homens são desejados, amados, necessários" (Papa Bento XVI)

Por fim, que o Natal, cuja a finalidade para muitos é de presentear, consumir, beber e festejar; porém para nós cristãos é o anuncio de uma nova esperança, seja um momento de silêncio e reflexão do amor divino pela humanidade, "pois Deus amou de tal forma o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que n'Ele acredita não morra, mas tenha a vida eterna." (São João 3, 16). Se desprenda de tudo aquilo que transforma seu coração naquela velha hospedaria inacabada, e deixe-se revistir pela simplicidade para que quando o Menino-Deus bater a porta de seu coração você esteja preparado para recebê-lo.

Rodrigo Stankevicz

Graça e Paz, xP.

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