18 de março de 2013

O desafio de Perdoar

     

        No dia em que o Papa Francisco falou a multidão de fiéis reunidos na Praça de São Pedro sobre o perdão, ocasião em que aproveitou para lembrar que "Deus nunca cansa de nos perdoar, somos nós que cansamos de pedir perdão", neste mesmo dia, aqui no Brasil, um fato quase extinto em nossa sociedade foi veiculado na TV secular.

       No evangelho do perdão, Jesus deixa bem clara a resposta quanto à pergunta de Pedro: "Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" (Mateus 18, 21 - 22). Nossa disposição para o perdão é muito limitada, segue a mesma medida proposta por Pedro: "Até sete vezes?". Contudo, Deus em sua misericórdia sempre se apresenta com um coração pródigo para com o ser humano, pois sabe até que ponto este pode chegar.

       "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete". Surpreendentemente esta foi a resposta do coração acolher e desprendido de Jesus. Deus não se limita a poucas compreensões, mas sempre vai além, e espera que o ser humano encare o desafio do perdão com um espírito de fé.

        Engraçado que neste Domingo do perdão e da misericórdia um gesto nobre foi ao ar pelo "Fantástico", programa transmitido pela rede Globo. Depois de completar uma semana a notícia do acidente que envolveu dois jovens na Avenida Paulista, foi então que o trecho bíblico supracitado, "setenta vezes sete", fez sentido para quem acompanhou o caso.
        Cruzaram-se duas realidades distintas, aparentemente um jovem de classe média, dirigindo um Honda Fit depois de uma noite de diversão, já no final da madrugada atropela e amputa o braço de um outro jovem trabalhador, este montado numa simples bicicleta em direção ao trabalho. O braço amputado era o instrumento de trabalho deste jovem pelejador, que tira seu sustento da lavragem de janelas de prédios em São Paulo.

        Num ato de grandeza de alma, o jovem ciclista com as seguintes palavras, alivia o fardo e parte do sentimento de culpa do jovem inconsequente: "Já perdoei ele! Gostaria de estar vendo ele logo que eu sair daqui, 'tá dando' meu perdão a ele, pessoalmente" (sic). Este jovem muito mais do que aprender as palavras de Jesus quanto ao perdão, colocou-as em prática. O perdão dado ainda no leito do hospital abrange atos de uma vida inteira, pois, muitas atividades ele não o fará ou fará com muita dificuldade. Um exemplo simples disto é desenhar, uma das paixões dele, segundo a reportagem.

        Deste modo, percebemos a dimensão do perdão concedido por ele, não foi apenas um braço perdido, que já é muito, mas o percurso de uma história mudada. E se fossemos nós? Aproveitaríamos a mídia para desabafar nossas injúrias? Nos colocaríamos na posição de juízes e condenaríamos o jovem infrator? Ou nos faríamos de vítimas? O triste é que tem muitas pessoas se portando desta maneira...

       O gesto deste rapaz deve ser amplamente divulgado em nossa sociedade, pois Santo Agostinho nos ensina que “as palavras convencem, porém os testemunhos arrastam”. Outros rapazes e moças deveriam aprender a valorizar o perdão, a vida, o amor, a fé, a religião, e serem arrastados por belos testemunhos como deste moço. Afinal a vingança, a raiva o ódio não trarão o braço de volta, a revolta muito menos. Contudo, a fé e o perdão demostrado pelo jovem farão dele, um jovem distinto, entre os milhões que há neste país. O Brasil precisa lembra-lo não como um jovem que perdeu o braço, mas como o jovem que perdoou seu algoz.

        Em contrapartida, não posso deixar de lembrar o Evangelho deste Domingo, sobretudo ele nos ensina a misericórdia para com o próximo. Relacionando-o com o acontecimento dos dois moços, me pergunto, será que Jesus poderia dizer ao atropelador: “Jovem, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ou será que Jesus em sua infinita sabedoria teria que formular uma pergunta que coubesse à situação? Tudo dependeria das testemunhas, de mim de você! Por acaso já não o condenamos?
        Assim sendo, o rapaz atropelador irá pagar perante a justiça. Já está preso e aguarda o cabível julgamento do tribunal dos homens. Sua miséria não foi diferente da mulher adúltera, apresentada neste Evangelho, a ponto das testemunhas desejarem apedrejá-la...

       Todavia, Jesus rico em misericórdia atualiza sua fala para nós e diz: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (João 8, 7). Assim, os anciões mais sábios baixarão a guarda, pois bem sabem que poderia ser uma pessoa de sua família a dirigir o carro: um filho, um neto, um sobrinho quem sabe; os mais novos, porventura, demorarão um pouco mais para refletir, que poderia ser um irmão, um primo, um amigo ao volante, ou ele próprio. É claro, que sendo uma pessoa próxima não isentaria a culpa, porém a visão seria diferente sobre o acontecido.
       O melhor seria todos nós olharmos para nosso íntimo, e percebermos as grandes mazelas que ocultamente, ou não, já fomos capazes de cometer, consequentemente as pedras e também as máscaras cairiam. O Senhor finaliza as Palavras da Salvação exortando: ”Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Porém, para o motorista será diferente, ficará recluso, por se tratar de um crime perante a sociedade, por isso, responderá judicialmente.

        Enfim, nossa sociedade necessita de mais misericórdia e coerência, do mesmo modo estar aberta ao perdão e a reconciliação, pois são valores importantes a serem ensinados aos adolescentes e jovens. Deveríamos ter uma visão crítica dos fatos, pois a mesma mídia que aponta e condena os jovens infratores, que se embriagam e cometem atos inapropriados, é a mesma mídia que incentiva a embriaguez, a violência e os exageros através de reality shows e outros programas. Ou seja, parte da responsabilidade destes fatos cotidianos ocorridos na sociedade se deve a grandes veículos de comunicação que influenciam jovens e adolescentes a beberem precocemente em suas propagandas. Da mesma forma dos pais, que não mais dialogam com os filhos, a fim de transmitir-lhes valores capazes de formar cidadãos de caráter e responsabilidade. E ainda, a maior para da responsabilidade, naturalmente recai sobre o próprio jovem imprudente, que não mede as consequências de seus atos.

Graça e Paz, xP.

Rodrigo Stankevicz

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